O armário corporativo
Eu me recordo facilmente de um tempo não tão distante, quando entrei na faculdade de arquitetura e uma das inúmeras preocupações bem presentes era meu comportamento no ambiente de trabalho. Afinal, eu já era estagiário e precisava me policiar para que meu "jeito afeminado" não ganhasse atenção dos colegas e principalmente do meu chefe. Redes sociais sempre bloqueadas, se ia jantar com namorado o scan preocupado antes de entrar no restaurante para ter certeza de quem ninguém do trabalho estaria ali pra fazer comentários no dia seguinte, um lado do guarda roupa sempre era separado para "roupa de trabalho". Office closet.
Escrever isso em 2019 beira o cômico, mas ainda tenho fresco na memória os ensinamentos passados pelos mais experientes que, independente de qualquer coisa, a minha personalidade deveria sem sombra de dúvidas, ser escondida em algum canto escuro e o Ítalo das 9h as 18h deveria ser sério, social.. e hétero.
Os anos foram passando e naturalmente com a idade e experiência fui aprendendo a dosar e perceber quando e como mostrar meu lado pessoal dentro do ambiente de trabalho mas sempre sendo lembrado de alguma maneira de que o Ítalo de verdade deveria ficar em casa até às 18h..
A vida com suas voltas me trouxe até a Pitá. E logo de cara me vi em uma sala cheia de gente diferente onde estava em pauta a licença maternidade para mães, pais e "pães". Ali, pela primeira vez, ouvi os outros colegas dando suas opiniões sem medo de serem repreendidos. Mães e futuras mães, pais e futuros pais, quem não tem planos de ser pai, quem só é filho, quem "um dia quem sabe".. Ali todo mundo foi ouvido. Eu realmente estava em um lugar diferente.
Ao meu lado lado um carioca simpático que sorri com os olhos, a minha frente uma curitibana "iluminada" com sua pupila aprendiz e ali também estão um futuro pai e um arquiteto super criativo com uma das personalidade mais marcantes que já vi.. pelos cômodos eu vi gente livre. Gente do norte e do sul. De bermuda, de saia, de calça ou macacão. Camiseta ou camisa de punho. De "Deus me Free" a twin set, sempre tem alguém mostrando quem é.. O lugar é cheio de gente que se mostra. Não só com opiniões mas com muita personalidade. Você pode e deve ser você por completo e isso é celebrado, talvez o grande segredo dessa receita.. a diversidade aqui não se deixa ser resumida em palavras, mas se mostra em todas as cores do arco íris, nas diferentes formas e na beleza de saber usar essa diferença para evoluir e se destacar.
Eu me recordo facilmente de um tempo onde minha preocupação era esconder ser quem eu sou no trabalho. Hoje isso virou memória.. Aqui na Pita todo mundo é uma coisa só, gente.
E gente é tudo diferente.
Ítalo Carvalho de Souza